A Produção do Racismo em livros Didáticos no Brasil
Ana Carolina Menezes de Moura
RESUMO
As argumentações que seguem neste artigo buscam trazer uma reflexão envolvendo questionamentos de fundamental importância no contexto da Educação.
O que pretendo abordar é a produção do Racismo em textos e ilustrações dos livros didáticos, identificando a presença de estereótipos negativos em relação aos negros, bem como o posicionamento dos professores enquanto mediadores desses esteorótipos na sua prática pedagógica.
PALAVRAS CHAVES: RACISMO. LIVRO DIDÁTICO. EDUCAÇÃO.
INTRODUÇÃO
Desde a vinda do negro ao Brasil, o colonizador tenta explicar a escravidão, opressão e a marginalização às quais foi submetido tal povo, através da atribuição de uma pretensa inferioridade bem como uma desumanização com a finalidade de destruir a identidade, auto-estima e reconhecimento dos valores e potencialidades de tal povo oprimido. Mais tarde, as teorias científicas disseminadas no século XIX, proporcionaram que a classe dominante dessa continuidade a essas ideologias inferiorizantes. Conseqüente, internalizou no próprio negro, como também na sociedade em geral, a noção de inferioridade, dita ”natural”, do negro, e a noção de superioridade, de perfeição, da raça branca.
Diante do exposto, é notório que, mesmo em tempos de Contemporaneidade, há persistência de tais ideologias com relação ao negro. Os ambientes escolares bem como toda sociedade brasileira encontram-se repletos dessa realidade, nas quais as diferenças étnico-culturais não são respeitadas nem valorizadas. Ao contrário disso, as discriminações são incentivadas, o que gera os preconceitos e práticas racistas por todo o país, apontando um racismo camuflado.
Os livros didáticos brasileiros são um exemplo explícito dessa situação, em que são encontrados textos e atividades que não oportunizam a construção da visão crítica do aluno, conduzindo-os a ser apenas um mero leitor, que concorda com as crueldades ideológicas fixadas pela elite dominante. O professor, por sua vez, é o representante dessas ideologias que a escola veicula, pois acaba reforçando a discriminação aos negros, devido a sua falta de percepção quanto ao estereótipo encontrado nos materiais didáticos.
As argumentações que seguem vão nos trazer uma abordagem em torno do estereótipo da figura do negro. Em seguida, uma análise da atuação dos professores no reforço desses preconceitos. E por fim, uma amarração a partir das novas demandas que objetiva romper com o imaginário negro excludente e reducionista.
O ESTEREÓTIPO
Em uma abordagem mais ampla:
“O estereótipo é uma visão simplificada e conveniente de um individuo ou grupo qualquer, utilizada para estimular o racismo. Ele constrói idéia negativa a respeito do outro, nascida da necessidade de promover e justificar a agressão, constituindo-se um eficaz instrumento de internalização da ideologia do branqueamento.” ( Silva, 2004, p. 47)
Nessa perspectiva, as ilustrações estereotipadas constituem um recurso eficaz para internalizar características estigmatizadas e desumanizadas às pessoas pertencentes aos segmentos oprimidos, assim como a influência negativa em suas autopercepção.
Na época da escravidão, o africano foi denominado como “selvagem”, “primitivo”, “mau”, para justificar sua subordinação e maus tratos. Além disso, usaram-se também outras expressões para qualificar o escravo, tais como “imoral”, “combativo”, bem como a escrava era qualificada como “insaciável por sexo”. O uso desses adjetivos tinha o intuito de aterrorizar os senhores, alertando-lhes dos perigos que corriam em conviver com indivíduos que a qualquer instante poderiam matá-los e comprometer a” moral” individual no seio familiar, devido a sua avidez sexual.
Propondo o estereótipo, a ideologia consegue imbutir ao próprio estereotipado uma imagem negativa, com o intuito de oprimi-lo e inferiorizá-lo. No entanto, o pior dos efeitos da influência do estereótipo é a auto-rejeição bem como a repulsão ao outro. É essa aversão contra si próprio que propunha a ideologia , um modelo traiçoeiro de inferiorização que resulta em separação individual e desmobilização coletiva.
Os materiais pedagógicos têm papel fundamental na multiplicação das ilustrações depreciativas, caricatas, já que reproduzem visões estigmatizadas dos grupos oprimidos da sociedade. Dentre as várias conseqüências da internalização do estereótipo, podemos destacar a discriminação do mercado de trabalho para o estereotipado. Através do disfarce de “boa aparência”, “perfil adequado”, o negro é também excluído, já que baseia-se na sua falsa imagem de feio, incapaz, mau, sujo , desonesto.
Os livros didáticos, em suma, denominados como os detentores da verdade, acabam camuflando o processo histórico cultural dos segmentos oprimidos como índios, negros, entre outros. Ao negro, em particular, sua mínima participação nos livros e a sua rara ilustração de forma estereotipada contribuem, na maioria das vezes, para o recalque de sua identidade e auto-estima.
È importante ressaltar que não é somente o livro o manipulador de ideologias. No entanto, devido ao seu caráter “verdadeiro”, pela importância que lhe é dada, e exigência de seu uso na formação dos jovens, transmite uma visão distorcida da realidade humana e social.
“Nesses livros, a experiência da criança negra está excluída do processo de comunicação, uma vez que o autor se dirige apenas ao público nele representado, constituído por crianças brancas de classe média. Essas obras são produzidas para educar crianças, e educá-las mal, constituindo-se em veículo de preconceito contra a criança negra.” (Negrão, 1986, apud SILVA, 2004, p.51)
As crianças negras acabam internalizando essas visões contidas nos livros. Conseqüentemente, contribuindo para desagregação de sua identidade racial ocasionado pela omissão de sua história, cultura, valores, experiências. Enquanto isso, as crianças brancas adquirem tais depreciações, relacionando os negros como desumano, subserviente, incapaz, em outras palavras, uma “educação” para a visão esteorotipada do negro.
A partir disso, é notória a padronização dos livros, cuja distribuição é controlada pelo Mec. Os mecanismos de seleção e distribuição constituem sinalizadores que propiciam a uniformidade dos livros didáticos já que não mostram críticas das “veracidades” fixadas e da ideologia por eles propagados. O livro didático constitui mais um instrumento em prol dos interesses dos privilegiados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS... Diante do exposto, nota-se a superficialidade da presença do negro nos livros didáticos. E quando o mesmo estava presente nas narrativas, a personagem negra era delineada com características lamentáveis, caricatas, animalizadas, bem como exercendo funções sociais inferiores.
Além disso, é explicito que a escola dificilmente garante uma política educacional que resulte na aceitabilidade das diferenças. O professor, posicionando-se longe das questões e conceitos de raças, etnias e preconceitos, acaba reforçando um imaginário depreciativo sobre o negro.
Em suma, é de extrema relevância uma reformulação das políticas educacionais em prol de novos posicionamentos, não só do livro e materiais didáticos, já que não são apenas estes os responsáveis em veicular os estereótipos em relação ao negro. Além disso, é muito importante a sensibilização dos professores para as ideologias e estereótipos que o livro veicula já que as ações dos mesmos são de extrema relevância para a desmistificação das ideologias veiculadas através do currículo escolar e no processo de reestruturação do saber do aluno.
REFERÊNCIAS: LIMA, Heloisa P. Histórias de Preta. São Paulo: Companhia das letras. 1ª edição, 2000.
MACEDO, Aroldo; OSWALDO, Faustino. Luana. São Paulo: FTD. 1 ª edição, 2000.
MACHADO, Ana Maria. Menina Bonita do laço de fita. São Paulo: Editora Ática. 7ª edição, 2001.
SILVA, Ana Célia. A Discriminação do negro no livro didático. 2ª ed. Salvador: EDUFBA, 2004.